Ela havia mudado, de cidade.
Mas voltou, para rever as árvores que sempre a encantaram, os rostos familiares e as ruas que sempre a acolheram, sozinha ou acompanhada.
Uma noite, mandou tudo às favas e saiu com aquele novo/velho amigo. Novo porque não havia muito tempo que o havia conhecido, numa das suas noites de dança e lembrancas e velho, pois as confidências não tardaram a chegar.
Como visitante daquela cidade que já havia sido a sua, ela se deixou levar à festa que ele havia sugerido. Não conhecia ninguém, mas isso já não importava. Foi-se o tempo que aquela menininha insegura sentava-se sozinha no canto da festa, se escondendo das risadas altas.
O jogo estava acontecendo fazia dias, meses. E continuava. Ela nunca foi do tipo de se entregar a esse tipo de frivolidade, mas achava que tudo devia ser experimentado na vida. Então, ali estava ela, em pé, copo na mão, sem conhecer uma alma naquele lugar um pouco até indecoroso.
Passando seus olhos pelas paredes ela viu a tinta descascando, fotos antigas exibindo pessoas que ela não sabia quem eram, tampouco as via ali. Baixou-os então para o chão e viu os tapetes avermelhados já gastos e sujos de bebidas e salgadinhos.
Ele a havia deixado para falar com as suas amigas. Ela fingindo não sentir aquela pontada no peito levantou a cabeça, aprumou os ombros e começou a estudar a audiência daquela "festinha", enquanto bebericava a cerveja que ele havia trazido.
E o jogo seguia.
De tempos em tempos ele voltava seus olhos para ela, sorria e continua a papear com quem quer que estivesse dependurado em seus braços.
Ela gostava da sensação de não sofrer. Isso já era o bastante para que ela pudesse seguir adiante sem medo.
Sentou-se finalmente num sofá empoeirado, próximo a uma mesinha. Ali haviam 2 homens sentados e em uma poltrona próxima a ela havia ainda um outro, que parecia estar alheio a tudo.
A conversa começou logo. De onde era, quantos anos, o que a trazia ali...o discurso era sempre o mesmo, só os rostos mudavam. De onde estava, ela o via, ou melhor, parte dele. Através de uma porta, que dividia os ambientes ela podia ver seus rosto e seu corpo reclinado na parede.
Não demorou para que seus olhares se encontrassem. Ela fingindo descaso, virou-se e continuou seu monólogo.
Sentindo-se ameaçado, ele circundou a sala e juntou-se a eles.
Sentou-se ao seus lado e começou a conversar com o grupo de homens que ali estavam. Ela, fingindo-se de inocente seguiu ouvindo, enquanto que por dentro, um sorriso irônico despontava.
Mais uma vez ele foi convidado a se retirar. "Posso te roubar ele mais um minutinho?". Com a classe que ela tinha, simplesmente distribuiu um sorriso amarelo.
Incomodada, resolveu mudar seu público-alvo e deu de cara com o solitário da poltrona. Parecendo surpreso com a atenção, ele logo desatou a falar. Passados dois minutos os dois já estavam rindo e agindo como bons amigos.
Em seguida, percebendo a concorrência, ele voltou. Com certeza não contava com o poder de sedução dela e parecia bem contrariado ao vê-la toda sorrisos ao lado daquele "cara".
Colocando a sua mão sobre a dela, ele disse que estava na hora de irem andando, afinal de contas, ela devia estar cansada...da viagem.
Ela se despediu e quando já estava na porta encontrou os olhos faiscantes da mocinha roubadeira de acompanhantes. Mandando-lhe uma piscadinha, deu a mão a ele e seguiram para casa.
6.1.06
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